Muito mais do que meros números ou índices, são determinadas ações ou movimentos do mercado que mostram se um setor está ou não bem. No caso do turismo no Brasil, é perceptível nas principais cidades a presença de estrangeiros, estimulados pelas últimas conquistas do país, notadamente a Copa do Mundo 2014 e a Olimpíada 2016 – e nos aeroportos também se percebe bom movimento de brasileiros rumo a passeios no exterior. Mas não é só no olhômetro ou nos números das associações de turismo que se comprova a força do setor. A recente compra de 63,6% das ações da CVC, maior operadora de turismo do Brasil, pelo Carlyle, fundo americano de private equity, é absolutamente sintomática quanto ao potencial do setor no país.
Pode-se discutir se a empresa brasileira fez ou não um bom negócio. Aí só o mercado vai dizer. Mas o que é importante para o país é o fato de um fundo desse tamanho decidir investir aqui. Não pelo nome do investidor – que, aliás, em abril foi investigado por um suposto pagamento de propina para obter recursos para o fundo de pensão dos servidores de Nova York.
A questão é que o Carlyle gere hoje um patrimônio de quase US$ 88 bilhões. É considerado nos Estados Unidos um fundo com credibilidade e com relações políticas importantes, a ponto de já ter tido entre seus conselheiros nomes como o ex-presidente George Bush (pai) e o ex-primeiro-ministro britânico John Major. E esse peso-pesado quer investir no turismo brasileiro.
Óbvio que não é por nenhum tipo de benesse. Os americanos sabem bem o que lhes pode dar um retorno robusto. Apenas para citar a CVC, que detém 60% do mercado nacional, a empresa teve um crescimento em torno de 20% entre 2008 e 2009 – números que batem com os gerais do setor de hotelaria, e que são altamente significativos para qualquer setor de qualquer cadeia produtiva do mundo.
No ano retrasado, a empresa embarcou 1,7 milhão de passageiros – para turismo interno ou externo. Ano passado foram 2 milhões. Também o turismo de negócios tem céu de brigadeiro à frente, com São Paulo prevendo crescimento de 5% na recepção de negócios e rede hoteleira com excelente nível de ocupação na capital. A projeção da direção, antes de o negócio com os americanos ser concluído, é que a CVC dobre de tamanho até 2015 – não por coincidência, entre a Copa do Mundo e a Olimpíada do Rio de Janeiro. Tudo isso sem que se possa perder de vista que em grandes e tradicionais destinos mundiais, como Estados Unidos e Europa, a tendência é inversa – de queda, ainda que discreta.
É a situação típica em que, se há motivos para festejar, há muitos mais para que o governo e as empresas se mantenham em alerta para evitar que a euforia deixe a peteca cair. Se o fluxo de turistas se mantivesse na alta temporada, já seria bom, mas há ainda margem para crescimento. É importante também que se pense na chamada baixa temporada, e usar um pouco da gordura acumulada para criar novas condições de atração para potenciais visitantes.
Quem é de gerações mais antigas sabe bem o trabalho que deu para que o Brasil deixasse de ser visto com desconfiança no exterior e virasse um player de ponta no turismo. O caminho é conhecido, é preciso segui-lo com muito trabalho e determinação. E com a certeza de que é um jogo que nunca estará totalmente ganho.
0 comments:
Postar um comentário