terça-feira, 6 de abril de 2010

A primeira prova de Dilma candidata

Já ardem algumas labaredas no comando da campanha eleitoral de Dilma, nem bem começaram os trabalhos da sucessão de 2010. Trata-se de circunscrever exatamente o papel do coordenador Fernando Pimentel, ex-prefeito de Belo Horizonte e amigo de juventude da candidata, pressioná-lo a "jogar em grupo" e conferir até que ponto ele fala efetivamente por Dilma Rousseff candidata ou em nome pessoal. É assunto que o PT deixou para discutir com a ex-ministra da Casa Civil agora, passadas a Páscoa e as turbulências da desincompatibilização, semana passada.

A rigor, não é a primeira vez que a candidata do PT é chamada a apagar um princípio de incêndio no comitê. Nem este é o principal problema da campanha governista, que se ressente mais que tudo de palanques fortes em São Paulo e Minas Gerais, os dois maiores colégios eleitorais do país. O núcleo dirigente da campanha, inclusive, não é mais o mesmo dos tempos da dupla militância da ex-ministra. Em sua nova configuração tornou-se menos palaciano e mais petista.

O ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, um expoente do núcleo que traçou a estratégia para transformar uma técnica sem nenhuma experiência eleitoral numa candidata viável, por exemplo, continua tão influente quanto antes, mas deslizou discreta e silenciosamente da campanha. Outros integrantes do grupo, entre os quais Fernando Pimentel e o deputado Antonio Palocci (PT-SP), atribuíam ao ministro supostas dificuldades que a candidata teria ou poderia vir a ter com as grandes redes de televisão.

Bobagem. Em relação aos meios de comunicação o contencioso é o mesmo desde sempre, independentemente da composição do comando da campanha de Dilma.

Os problemas do governo e do PT, no setor de mídia, para usar o jargão ao gosto da freguesia, devem-se mais que qualquer outra coisa a suas investidas contra a liberdade de expressão travestidas no chamado controle social da imprensa. O resto é paranoia, o que, aliás, não é uma exclusividade do PT, do governo de Lula e nem de sua candidata, na temporada eleitoral em curso.

Do núcleo original restaram Pimentel e Palocci. O presidente do PT, José Eduardo Dutra, substituiu seu antecessor no cargo, o deputado Ricardo Berzoini (SP), no fim do ano passado. O marqueteiro é o mesmo, João Santana, embora o publicitário Duda Mendonça continue sendo um objeto de desejo e se mostre sempre acessível à corte de petistas. Foram incorporados, também, o deputado estadual Rui Falcão e o federal José Eduardo Cardozo, da esquerda do partido.

A presença de Falcão expressa o aumento da influência do grupo da ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy, que será candidata ao Senado, na campanha da candidata governista.

Experiente em eleições, Falcão, entre, outras coisas será responsável pelo setor de imprensa da campanha - o secretário nacional de Comunicações do PT, André Vargas, cuidará das campanhas estaduais. O deputado paulista já encontrou muitas decisões encaminhadas, mas é ele que trata atualmente da contratação de um assessor para Dilma em São Paulo. O nome em negociação é o de Nirlando Beirão, um profissional respeitado e com trânsito nas principais redações do país.

Uma empresa jornalística de Brasília, a Lanza Comunicação, está fechando contrato com a campanha de Dilma Rousseff. Para o gabinete da candidata do PT a Lanza deve designar três jornalistas para a coordenação de imprensa: Osvaldo Buarim Júnior, que já assessorava a ex-ministra na Casa Civil da Presidência, Helena Chagas, ex-colunista do jornal "O Globo" e atualmente na "EBC", a tevê pública, e Mário Marona, que será o encarregado da redação de discursos e artigos de Dilma.

Os problemas de Pimentel na coordenação, até agora, são mais de relacionamento, segundo se fala no PT, nada que configure uma crise política, mas que deve ser resolvido antes que fuja do controle.

As queixas, é evidente, são mais contundentes no PT de São Paulo, que conta com três dos cinco petistas no comitê - Pimentel é mineiro; Dutra, sergipano. Os paulistas, é claro, dizem que as dificuldades nada têm a ver com a questão regional ou com a tradicional hegemonia exercida por São Paulo nas decisões do partido.

As reclamações são de que Fernando Pimentel não sabe discutir "as coisas em grupo", quando perde um debate, vaza para a imprensa a versão que mais lhe interessa e, o que é pior, em pelo menos em uma ocasião teria sido flagrado tentando fazer prevalecer no grupo um desejo pessoal como se fosse a vontade da candidata.

Isso teria ficado evidente nas tratativas para o aluguel da casa para Dilma morar e do escritório da campanha. Sob o argumento de que era a vontade da ex-ministra, Pimentel teria esticado a corda para obter o aval do comitê para alugar uma casa luxuosa no Lago Sul, bairro nobre de Brasília, que serviria de residência e escritório da candidata.

A própria Dilma, mais tarde, teria julgado inconveniente a contratação do referido imóvel, preferindo uma casa mais modesta, para morar, e o aluguel do subsolo de um antigo hotel da cidade para escritório (curiosidade: em 2002, o comitê de campanha de José Serra funcionou também num hotel antigo, no mesmo setor da cidade). Chegou a ser então noticiado que Dilma passara um sabão no PT por causa da má escolha, o que também foi espetado na conta de Pimentel.

O ex-prefeito de Belo Horizonte ainda não abandonou a ideia de disputar um mandato eletivo em Minas Gerais. Seus aliados argumentam que ele terá mais peso, em eventual governo Dilma, se chegar a bordo de um caminhão de votos.

Pimentel gostaria de concorrer ao governo do Estado, mas a conveniência política do presidente Lula aponta para uma aliança com o candidato do PMDB, Hélio Costa. Além disso, Patrus Ananias foi liberado pelo PT a tentar viabilizar sua candidatura. Restaria o Senado. Mas para isso seria preciso convencer José Alencar a desistir da disputa (Aécio Neves é pule de dez para a outra vaga).

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