Autor de um único livro, que ainda nem foi publicado, o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) será o próximo ocupante de uma cadeira na Academia Alagoana de Letras e entrará para o grupo de imortais, ao lado de historiadores e literários. Famoso por seus discursos áridos no plenário do Senado e pelo grande poder de oratória, o ex-presidente da República tem o apoio de praticamente todos os integrantes da entidade e tornou-se candidato único à sucessão da cadeira 20, que era ocupada pelo falecido poeta e defensor da cultura alagoana Ib Gatto.
A eleição de Collor deve acontecer no próximo dia 20. Para justificar a escolha, que deve ser feita por unanimidade, os integrantes da academia ressaltam o talento como orador e a atuação do parlamentar à frente do grupo de comunicação Arnon de Mello, que Collor herdou do pai. Para tornar-se candidato, o ex-presidente apresentou à entidade uma coletânea dos seus discursos e artigos sobre os mais variados temas. Também mostrou um esboço do livro que escreve há anos sobre sua versão do impeachment. O livro, intitulado A crônica de um golpe, está em fase final de produção. Em plenário, o senador já anunciou que pretende lançá-lo em breve. “A história dos homens se escreve com palavras vitoriosas, e se agora posso relembrar aqueles momentos com o distanciamento do tempo, é porque a vitória, no final, seria minha”, diz um trecho do primeiro capítulo.
A Academia Alagoana de Letras é atualmente presidida pelo médico Milton Ênio, defensor declarado da escolha do senador para o grupo de imortais. Ênio é amigo da família Collor há quase 30 anos. Outro entusiasta da eleição de Collor é o ex-secretário de Saúde José Medeiros. “Ele apresentou tudo que era preciso. Achávamos que poderia haver outros candidatos, mas ninguém se inscreveu”, comenta.
Irritação
Embora na academia haja unanimidade em torno do nome de Collor, alguns poetas e autores alagoanos ficaram irritados com a escolha. O Correio conversou com dois deles, que preferiram não se identificar. Ambos fazem parte do quadro de docentes da Universidade Federal de Alagoas. Eles criticam a falta de critérios e dizem que não se candidataram desta vez porque a eleição do senador já era tida como certa.
Fernando Collor, entretanto, não é o único a ingressar na academia mais pela atuação na política do que pela produção literária. O rol de imortais tem outro político com uma história de divergências com a opinião pública semelhante à do atual senador: Divaldo Suruagy. Ele renunciou ao cargo de governador em 1997, após intensa pressão popular. Suruagy tornou-se acadêmico anos depois. Na lista de produções literárias, estão um livro sobre a as ilusões da política e um de memórias. Outros ex-políticos também já fizeram parte da entidade, como Arnon de Mello, Teotônio Vilela e Tavares Bastos.
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