Eles não sabem governar seus Estados
O governador José Serra apresentou ontem as médias do Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo) realizado em 2008. O resultado geral mostra que houve queda no desempenho em português e pequena melhora nas notas de matemática.
Em nenhum dos casos, porém, os alunos conseguiram conceitos bons ou ótimos. Em ambas as matérias as notas continuam vermelhas.
Se em 2007 68% dos alunos das 4ª, 6ª e 8ª séries e do 3º ano do ensino médio apresentaram conhecimento parcial ou insuficiente de português, no ano passado o índice saltou para 72%. O pior desempenho foi entre os estudantes da 8ª série.
O teste foi realizado com mais de 2 milhões de alunos das 2ª, 4ª, 6ª e 8ª séries do ensino fundamental e do 3º ano do ensino médio. Os estudantes responderam perguntas de português, matemática e, dependendo da idade, de ciências. Com exceção da 2ª série, os alunos também fizeram redação.
'Saresp é uma enganação', diz professor de educação
O modelo de avaliação adotado pelo governo estadual é criticado por especialistas, que não veem motivos para comemorar avanços com a divulgação de notas tão baixas. "O Saresp é uma enganação. As pessoas que acreditam nele não entendem de educação. Não é preciso fazer contas para saber que o nível é baixo, que o povo continua ignorante", acusa o professor Vitor Paro, da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo).
Para o colega Ocimar Alavarse, os dados são alarmantes. "No caso de matemática, por exemplo, mesmo com o pequeno avanço, mais de três quartos dos alunos não atingiram o nível esperado pela própria secretaria", disse.
Alavarse acredita que os dados indicam que os programas do governo parecem não ter surtido efeito. "É preciso uma investigação séria dos projetos e da situação das escolas. São Paulo, com sua condição financeira, não poder ter esse número de alunos sem o conhecimento adequado", completou.
Celio da Cunha, consultor da Unesco e professor da Faculdade de Educação da UnB (Universidade de Brasília), aponta como urgente a necessidade de se vistoriar a situação das escolas. "Insisto na inspeção escolar. As escolas devem ser periodicamente visitadas, como ocorre na França e na Inglaterra.
O pesquisador Ruben Klein, da Fundação Cesgranio, que aplicou o Saresp, é mais positivo. Ele afirma que "considerando um período mais longo de análise, o Estado tem melhorado em português e matemática, como o restante do país". Ele usa como base os exames federais, como a Prova Brasil.
Taxa de analfabetismo de alunos do 2º ano é de 10%
A taxa de analfabetismo entre alunos da 2ª série do ensino fundamental -- 10% não sabe ler e escrever-- revela que o modelo de educação está ultrapassado, segundo especialistas.
"Esse é um processo de aprendizagem. Não é o diploma que interessa, mas a qualidade passada ao aluno. É preciso fixar a informação ao longo do tempo, assim como qualquer outra atividade, como aprender a dirigir ou tocar um instrumento musical", disse o professor Dermeval Saviani, da faculdade de educação da Unicamp.
Para ele, o percentual é grave, porque mostra que a escola deixou o aluno para trás. "Independentemente do modelo pedagógico, é preciso lutar contra a defasagem com atividades complementares que resgatem o aluno e não permitam que a dificuldade seja prolongada", afirmou Saviani.
A professora Neide Noffs, da Faculdade de Educação da PUC-SP, defende métodos menos repetitivos nas salas de aula. "Não é ouvindo várias vezes que o plural de pão é pães que eles aprenderão. Os estudantes têm que ler mais.
Metade dos estudantes não sabe ciências
O conhecimento de ciências foi testado pela primeira vez no Saresp, e o resultado foi negativo: 82% dos alunos têm domínio insuficiente ou parcial dos conteúdos. O pior desempenho foi obtido entre os alunos do terceiro ano. Às vésperas do vestibular, 94,8% se mostraram despreparados, sendo que metade desses estudantes (49,8%) não sabe a matéria, obtendo conceito abaixo do básico.
No ensino médio, somente 5,2% do total apresenta notas boas ou ótimas (adequado ou avançado). Já 45% dos estudantes ficaram no nível básico. A prova, aplicada em 2008, avaliou o desempenho dos jovens em biologia, física e química.
Na lista de perguntas, temas como radiação, fecundidade, poluição e fontes energéticas. Matérias mais complexas, que exigem maior investimento na estrutura física para o ensino, como reconhece a própria Secretaria da Educação: "Precisamos avançar, principalmente na questão dos laboratórios e dos materiais oferecidos para o estudo", disse ontem a secretária Maria Helena de Castro, que deixa o cargo na próxima segunda, durante a apresentação das notas da prova. "Sabemos agora de que ponto partir. Conhecemos a realidade, o que nunca havia sido feito", completou.
Para o coordenador de física do colégio Bandeirantes, Heins Adalbert Hillermann, a dificuldade de aprendizagem das disciplinas está relacionada à deficiência em outras matérias. "Para que um aluno aprenda física, é preciso que tenha uma boa base de matemática e que seja bom na parte de interpretação de texto. Sem isso, muitas vezes não entende o enunciado", diz.
O mesmo problema pode ser detectado em química e biologia. "As questões envolvem gráficos, tabelas e equações que precisam ser compreendidos. É preciso habilidade para lidar com outras informações. É um trabalho de equipe [de várias disciplinas]", afirma Hillermann.
A baixa pontuação em matemática, por exemplo, comprova a tese. No 3º ano do ensino médio, apenas 0,4% dos estudantes teve o aproveitamento máximo nessa matéria, obtendo o conceito avançado. Em ciências, a situação é pior: 0,2%.
O governador José Serra apresentou ontem as médias do Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo) realizado em 2008. O resultado geral mostra que houve queda no desempenho em português e pequena melhora nas notas de matemática.
Em nenhum dos casos, porém, os alunos conseguiram conceitos bons ou ótimos. Em ambas as matérias as notas continuam vermelhas.
Se em 2007 68% dos alunos das 4ª, 6ª e 8ª séries e do 3º ano do ensino médio apresentaram conhecimento parcial ou insuficiente de português, no ano passado o índice saltou para 72%. O pior desempenho foi entre os estudantes da 8ª série.
O teste foi realizado com mais de 2 milhões de alunos das 2ª, 4ª, 6ª e 8ª séries do ensino fundamental e do 3º ano do ensino médio. Os estudantes responderam perguntas de português, matemática e, dependendo da idade, de ciências. Com exceção da 2ª série, os alunos também fizeram redação.
'Saresp é uma enganação', diz professor de educação
O modelo de avaliação adotado pelo governo estadual é criticado por especialistas, que não veem motivos para comemorar avanços com a divulgação de notas tão baixas. "O Saresp é uma enganação. As pessoas que acreditam nele não entendem de educação. Não é preciso fazer contas para saber que o nível é baixo, que o povo continua ignorante", acusa o professor Vitor Paro, da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo).
Para o colega Ocimar Alavarse, os dados são alarmantes. "No caso de matemática, por exemplo, mesmo com o pequeno avanço, mais de três quartos dos alunos não atingiram o nível esperado pela própria secretaria", disse.
Alavarse acredita que os dados indicam que os programas do governo parecem não ter surtido efeito. "É preciso uma investigação séria dos projetos e da situação das escolas. São Paulo, com sua condição financeira, não poder ter esse número de alunos sem o conhecimento adequado", completou.
Celio da Cunha, consultor da Unesco e professor da Faculdade de Educação da UnB (Universidade de Brasília), aponta como urgente a necessidade de se vistoriar a situação das escolas. "Insisto na inspeção escolar. As escolas devem ser periodicamente visitadas, como ocorre na França e na Inglaterra.
O pesquisador Ruben Klein, da Fundação Cesgranio, que aplicou o Saresp, é mais positivo. Ele afirma que "considerando um período mais longo de análise, o Estado tem melhorado em português e matemática, como o restante do país". Ele usa como base os exames federais, como a Prova Brasil.
Taxa de analfabetismo de alunos do 2º ano é de 10%
A taxa de analfabetismo entre alunos da 2ª série do ensino fundamental -- 10% não sabe ler e escrever-- revela que o modelo de educação está ultrapassado, segundo especialistas.
"Esse é um processo de aprendizagem. Não é o diploma que interessa, mas a qualidade passada ao aluno. É preciso fixar a informação ao longo do tempo, assim como qualquer outra atividade, como aprender a dirigir ou tocar um instrumento musical", disse o professor Dermeval Saviani, da faculdade de educação da Unicamp.
Para ele, o percentual é grave, porque mostra que a escola deixou o aluno para trás. "Independentemente do modelo pedagógico, é preciso lutar contra a defasagem com atividades complementares que resgatem o aluno e não permitam que a dificuldade seja prolongada", afirmou Saviani.
A professora Neide Noffs, da Faculdade de Educação da PUC-SP, defende métodos menos repetitivos nas salas de aula. "Não é ouvindo várias vezes que o plural de pão é pães que eles aprenderão. Os estudantes têm que ler mais.
Metade dos estudantes não sabe ciências
O conhecimento de ciências foi testado pela primeira vez no Saresp, e o resultado foi negativo: 82% dos alunos têm domínio insuficiente ou parcial dos conteúdos. O pior desempenho foi obtido entre os alunos do terceiro ano. Às vésperas do vestibular, 94,8% se mostraram despreparados, sendo que metade desses estudantes (49,8%) não sabe a matéria, obtendo conceito abaixo do básico.
No ensino médio, somente 5,2% do total apresenta notas boas ou ótimas (adequado ou avançado). Já 45% dos estudantes ficaram no nível básico. A prova, aplicada em 2008, avaliou o desempenho dos jovens em biologia, física e química.
Na lista de perguntas, temas como radiação, fecundidade, poluição e fontes energéticas. Matérias mais complexas, que exigem maior investimento na estrutura física para o ensino, como reconhece a própria Secretaria da Educação: "Precisamos avançar, principalmente na questão dos laboratórios e dos materiais oferecidos para o estudo", disse ontem a secretária Maria Helena de Castro, que deixa o cargo na próxima segunda, durante a apresentação das notas da prova. "Sabemos agora de que ponto partir. Conhecemos a realidade, o que nunca havia sido feito", completou.
Para o coordenador de física do colégio Bandeirantes, Heins Adalbert Hillermann, a dificuldade de aprendizagem das disciplinas está relacionada à deficiência em outras matérias. "Para que um aluno aprenda física, é preciso que tenha uma boa base de matemática e que seja bom na parte de interpretação de texto. Sem isso, muitas vezes não entende o enunciado", diz.
O mesmo problema pode ser detectado em química e biologia. "As questões envolvem gráficos, tabelas e equações que precisam ser compreendidos. É preciso habilidade para lidar com outras informações. É um trabalho de equipe [de várias disciplinas]", afirma Hillermann.
A baixa pontuação em matemática, por exemplo, comprova a tese. No 3º ano do ensino médio, apenas 0,4% dos estudantes teve o aproveitamento máximo nessa matéria, obtendo o conceito avançado. Em ciências, a situação é pior: 0,2%.
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