Os exportadores bem que festejaram a volta das compras maciças de dólares pelo Banco Central (BC). O tombo imediato das cotações no câmbio interno passou-lhes a impressão de que, finalmente, há comando na aeronave Brasil e que este não vai deixar que o produto brasileiro perca competitividade no mercado internacional.
Mas, ontem, o dólar retomou sua trajetória de baixa, o que relembra aos mais esquecidos de que nenhum banco central consegue operar impunemente contra uma tendência firme do câmbio. E, nas circunstâncias, a tendência firme é de valorização do real.
Ontem, o ex-ministro das Comunicações do governo Fernando Henrique, Luiz Carlos Mendonça de Barros, observava que é a primeira vez que, em plena crise global, o Banco Central do Brasil se vê obrigado a comprar dólares para enxugar o excesso de moeda estrangeira. Coisas assim não ficam por isso mesmo.
Reafirmando o que foi dito nesta coluna na terça-feira, toda compra de moeda estrangeira aumenta as reservas externas, e reservas em crescimento tornam ainda mais reluzente a ficha cadastral do Brasil. Se o BC comprar US$ 3,5 bilhões a cada semana, como fez anteontem, em um ano o atual cacife das reservas externas terá duplicado. Imaginem o que ocorreria com a percepção sobre a qualidade da economia brasileira, lá fora e aqui dentro, se as reservas saltassem para algo em torno dos US$ 400 bilhões.
O mercado global está inundado de moeda. Tesouros e bancos centrais injetaram provavelmente mais de US$ 6 trilhões para apagar focos de incêndio. Essa dinheirama foi despejada nos mercados, tanto na condição de ajustes automáticos (pagamento de seguros sociais) e pacotes fiscais quanto na de operações de política monetária (política de juros).
Esses recursos zanzam nos quatro cantos do Planeta e parecem cansados de segurança e de rendimento zero. E querem sentir de volta o gostinho do risco. Depois da prova de fogo por que passou, com sucesso, é natural que o Brasil se apresente como excelente oportunidade.
Se a economia mundial não piorar, o real tende a valorizar-se. Se melhorar um pouco, o real tende a valorizar-se mais. Se melhorar mais do que o esperado, tende a valorizar-se ainda mais.
Há quem pense o contrário: que a economia mundial ainda sofrerá forte recaída. Mas parece mais difícil apostar nessa hipótese. Ontem, por exemplo, foi antecipado que o Bank of America e o Citigroup precisarão de reforço de capital de US$ 34 bilhões e de US$ 5 bilhões, respectivamente. Mas, em vez de afundar na depressão, o mercado de ações comemorou. As ações do Bank of America se valorizaram 17% e as do Citigroup, 16,6%.
Se a situação dos bancões americanos, epicentro da crise,tende a se controlar, fica mais difícil um agravamento geral.
As pressões baixistas do câmbio talvez alargarão a estrada do afrouxamento monetário corrida pelo BC. Assim, os juros podem manter trajetória de baixa, não para evitar a valorização do dólar, mas para aproveitar o efeito baixista do real revalorizado sobre os preços (pass through).
Muita gente recomenda cautela e avisa que é cedo demais para afirmar que o pior já passou. Cautela é sempre necessária. Mas também é preciso manter olhos e mente abertos para procurar entender o que se passa.
Confira
É hoje! - Ficou para hoje a divulgação dos resultados do teste de estresse a que estão sendo submetidos os 19 maiores bancos americanos.
Algumas informações já saíram a conta-gotas, aparentemente para testar o mercado. E o mercado gostou do que lhe foi dito. Esperava coisa pior.
Como está decidido que banco grande nenhum quebrará, parece improvável que surja alguma surpresa ruim. E, se o problemão principal (insuficiência patrimonial dos bancos americanos) se encaminha para solução definitiva, aumentam as condições de que a crise seja revertida.(Celso Ming)
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