terça-feira, 26 de maio de 2009

Sem apoio interno no PT, Haddad depende da intervenção de Lula


No vácuo deixado pelas sucessivas derrotas da ex-prefeita Marta Suplicy nas últimas disputas eleitorais em São Paulo e pela indefinição sobre a situação jurídica do deputado Antonio Palocci (PT-SP), as articulações para que o ministro da Educação, Fernando Haddad, torne-se o candidato do PT à sucessão do governador José Serra encontram na falta de apoio interno do PT seu maior obstáculo.

Sem apoio do campo majoritário, que hoje se divide entre Palocci e o prefeito de Osasco, Emídio de Souza, Haddad conta hoje com a simpatia do grupo minoritário Mensagem ao Partido, cuja maior liderança nacional é o ministro da Justiça, Tarso Genro, desgastado junto aos petistas paulistas desde sua gestão como presidente nacional do partido.

Partidários de sua candidatura acreditam que seu nome apenas se viabilizará se se mostrar como a melhor alternativa para fortalecer a campanha da ministra Dilma Roussef no Estado de maior eleitorado do país. A candidatura dependeria, então, do apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Caso isso não venha a acontecer, acreditam lideranças regionais do PT, dificilmente o ministro da Educação terá espaço nas discussões em torno do candidato do partido nas eleições de 2010.

Mesmo sem ter o apoio explícito de Lula, que ainda aposta na absolvição do ex-ministro da fazendo Antônio Palocci, Haddad está começando a entrar, ainda que lentamente, na disputa em São Paulo. Há cerca de 15 dias encontrou-se com o presidente do PT paulista, o ex-prefeito de Araraquara, Edinho Silva, para conversar sobre o assunto. Foi cauteloso: "Ele me disse que não quer entrar em uma disputa eleitoral, mas que gostaria de deixar seu nome como uma alternativa para o partido na disputa ao governo", afirmou Silva, deixando claro que o ministro precisará de muita articulação política para ter o apoio do partido em São Paulo.

A aposta de Haddad e de Tarso Genro, o maior incentivador de sua candidatura, é de que, caso Palocci não possa sair como candidato por conta de seus problemas legais, Lula aposte suas fichas no ministro da Educação para reforçar a campanha de Dilma em São Paulo. "O mais forte hoje, sem dúvida é o Emídio, mas se Lula entender que ele pode não ser o palanque ideal para Dilma em São Paulo, pode haver uma intervenção, como ocorreu com o nome da ministra da Casa Civil", afirma uma liderança petista.

No início do ano, Haddad começou a ter seu nome cogitado para alguns cargos eletivos: deputado federal, senador ou governador do Estado, exatamente pelas possibilidades de exposição política que o ministério da Educação cria. Com perfil técnico, Haddad passou a ser visto por alguns setores petistas como uma oportunidade de arejar o discurso político interno. "Por ter boa formação e ser um novo nome, Haddad pode, sim, dar uma oxigenada política no PT", disse um integrante do Diretório Nacional.

Tarso captou este movimento e passou a incentivar seu ex-secretário executivo no Ministério da Educação. "Desde que assumiu a presidência do PT, no auge da crise do mensalão, Tarso sempre adotou o discurso de que o grupo ligado a Dirceu é a banda podre do PT. Esta é mais uma oportunidade que ele está usando para reforçar a tese", disse um petista influente de São Paulo.

Para isto, contudo, Haddad precisará mais do que o apoio de Lula.. Terá de traçar, na opinião de um dirigente partidário, o mesmo roteiro da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, após ser confirmada como candidata à presidência em 2010: rodar o estado de São Paulo fazendo política. "Para construir um nome viável, ele precisa circular pelas diversas regiões, marcar plenárias com sindicatos, movimentos sociais, militância. Não adianta ficar em Brasília torcendo para ser candidato", completou. Para isto, também, Haddad teria que deixar o Ministério.

Secretário-geral do PT e também integrante do grupo Mensagem ao Partido, o deputado José Eduardo Cardozo (SP) enaltece as qualidades de Haddad, mas mantém a cautela. Afirma que nenhum nome, tanto no PT como fora dele, tem condições de se viabilizar sozinho. "O nosso candidato será aquele mais capaz de aglutinar forças. Precisamos construir um consenso, ao invés de abrir uma disputa política interna que só faria com que perdêssemos tempo e energia", sugeriu Cardozo.

Por enquanto, as movimentações políticas não são conclusivas. Haddad tem aumentado sua exposição pública, lançando a proposta de criar um novo vestibular com base no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), postando-se ao lado do presidente Lula ampliando sua interlocução com setores empresariais que são fornecedores tradicionais de sua pasta. Tudo isso, no entanto, ainda é pouco para que viabilize seu nome. "A verdade é que ele terá que convencer Marta, José Dirceu e João Paulo Cunha, que hoje estão com Palocci ou Emídio", diz um dirigente petista. "Sem o apoio deles ninguém é candidato pelo PT de São Paulo".

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