quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Oh dona, vá ser cara de pau lá nos quintos...


"Não sou uma rainha em busca de um jato" Yeda Crusius

A governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, passou os últimos dois anos reclusa no Palácio Piratini, num autoimposto anonimato. Em 2007, as finanças gaúchas se encontravam em um momento crítico. O Rio Grande do Sul era o único Estado que não tinha superávit. Agora, Yeda resolveu sair do isolamento e começou um périplo pelos Estados brasileiros comandados por tucanos. Ela quer conhecer outras realidades administrativas, especialmente em programas sociais. Mas, nessa nova fase, três notícias jogaram os holofotes na governadora, economista formada pela USP. Ela quer comprar um jato, decidiu desonerar os empresários e, de quebra, anunciou investimentos de R$ 2,3 bilhões. E de onde vem o dinheiro? "Ele não estava na árvore, nem caiu do céu por descuido." Segundo ela, em entrevista exclusiva à DINHEIRO, a compra do jato está em linha com a responsabilidade fiscal.

DINHEIRO - A sra. realmente está pensando em comprar um jato em meio a uma crise mundial?

YEDA CRUSIUS - Somos o mais setentrional dos Estados. Montei um grupo de trabalho para analisar isso. Por enquanto, o avião não existe, mas já lhe deram um nome. Eu tenho um King Air 320, que é um turboélice. Ele desce em pista de areia, é muito seguro, mas é um avião pequeno. Da última vez que nós pegamos um minuano voltando de Brasília demorei quatro horas e meia para chegar. Não tem banheiro. Mas deram o nome do avião, que não existe, de Queen Air.

DINHEIRO - Será o aero-Yeda?

YEDA - As autoridades do Estado merecem ter um jato. Não é o jato da governadora, daqui a pouco não estou mais aí. O jato fica. Se é um assunto polêmico, é um assunto polêmico. Não vou explicar essas coisas porque não faz sentido ficar dando corda para um fato que não existe.

DINHEIRO - Mas a sra. quer um jato?

YEDA - É possível que o King Air trocado por um jato me dê um troco. É um avião que se eu coloco à venda pode ser vendido por US$ 3,2 milhões e tem jato de US$ 3 milhões. É assim que eu vejo a separação entre a governadora- gestora que tem que responder por centavos do dinheiro público e aquela que é vista como governadora. Hoje no Brasil confundem o Executivo com a Corte. É impressionante isso. Não sou uma rainha que quer um avião.

DINHEIRO - O Rio Grande do Sul está preparado para a crise?

YEDA - Está. Não temos a quantidade de recursos que gostaríamos. Nós sabíamos que poderíamos ter a surpresa. Então, resolvemos fazer com que o nosso orçamento, que foi enviado em setembro de 2008 para a Assembleia, não tratasse de sonhos, fosse um orçamento realista. Previmos o déficit zero e investimento de 7% da receita líquida. Previ um crescimento de 2,5%, que era o que eu podia ver com recursos que a gente tinha para investir. Quando a crise veio, o orçamento estava aprovado e ele vai ser realizado. Não preciso fazer cortes.

DINHEIRO - O que representa 7%?

YEDA - R$ 2,3 bilhões entre administração direta e indireta.

DINHEIRO - Como a sra. vai conseguir investir R$ 2,3 bilhões?

YEDA - Vou mostrar em março, quando a contabilidade estiver pronta, que a arrecadação do ICMS cresceu 22% e, no total, a arrecadação subiu 16%. O orçamento do Estado cresceu pelos ganhos de gestão aplicados desde o primeiro dia. É uma experiência rica. São dezenas de ações ao mesmo tempo sem perder o foco do ajuste estrutural pelo gerenciamento de receita e despesa.

DINHEIRO - Como é feito esse gerenciamento?

YEDA - Temos um planejamento detalhadíssimo com todas as ações. Não há uma janela de despesa, não há uma janela de receita que não seja analisada por gestão por meio do programa de utilidade e produtividade. O primeiro ano foi ruim para tudo, inclusive arrecadação. Então, esses 22% devem-se muito mais ao segundo ano. Criamos a nota fiscal eletrônica, substituição tributária, um programa de acompanhamento do contribuinte, o PAC, em que nós celebramos acordos com o contribuinte. Quando uma coisa vai mal, a gente tem um indicador que faz o acompanhamento permanente do contribuinte. São 17 setores que estão sendo acompanhados em cada região do Estado.

DINHEIRO - A arrecadação subiu com o aumento de alíquotas?

YEDA - Não. Foi com gestão. Acertei com cada secretário que seria feito um corte de 30% no custeio, que é um número absolutamente extraordinário. Dei gestão, projetos, procedimentos para que se preocupassem com o quanto gastam com gasolina, com luz. Contratei uma consultoria. Assim que coloquei a folha em ordem, comecei a pagar passivos que estavam se arrastando há décadas. Primeiro, aumento do salário do funcionalismo entre 19% e 33%. Segundo, os precatórios. Reservei no orçamento 15 vezes mais para o pagamento de precatórios do que foi pago na década anterior. E fiz o Simples gaúcho.

DINHEIRO - O Estado nem bem saiu de um déficit. Como desonerar?

YEDA - Ah! Eu faço o cálculo. Só vou diminuir a alíquota se a arrecadação continuar crescendo. Desonerando por setor, com nota eletrônica, substituição tributária, a gente vai criando capacidade de reduzir alíquota, porque tem o compromisso de aumento da arrecadação.

DINHEIRO - Como será o Simples?

YEDA - Ele é a desoneração total para quem fatura até R$ 240 mil. No Estado, isso equivale a 85% das micro e pequenas. E depois escalonadamente em 20 faixas, para quem fatura até R$ 2,4 milhões. Estamos fazendo uma desoneração bárbara, além de termos a menor taxa de ICMS no Brasil, 17% base. Gradativamente, a gente vai desonerando em contratos setoriais que aumentam o volume de arrecadação.

DINHEIRO - Se o governo federal resolvesse isentar todas as micro e pequenas empresas, o impacto na arrecadação seria de 3%. E para o RS?

YEDA - R$ 330 milhões. O nosso orçamento de ICMS está entre R$ 16 bilhões e R$ 17 bilhões e paga todas as despesas. Nós temos muitas frentes de trabalho. Está faltando muito. Mas o dinheiro saiu da gestão.

DINHEIRO - E os investimentos privados?

YEDA - Alguns adiaram. Há o setor florestal que refluiu um pouquinho, mais continua com os projetos. É possível que alguns investimentos retornem, porque o grupo Votorantim iniciou uma reestruturação da dívida da Aracruz. Há investimentos no Porto de Rio Grande. Também na fábrica de plástico verde. Nós temos a patente mundial de plástico verde, a transformação do álcool de cana em plástico, do etanol para o eteno. A fábrica ficará pronta em dois anos, mas a partir daí a demanda será infinita. O mundo inteiro quer plástico verde. Há os setores de carnes e de leite, que esfriaram, mas continuam sendo feitos investimentos novos. Somos o primeiro pólo de leite no Brasil.

DINHEIRO - O setor de leite está passando por uma crise.

YEDA - Caiu, mas a produtividade do Estado cresceu muito. Nós estamos fazendo uma política de irrigação para passar para o pasto irrigado. Estamos fazendo oito mil microaçudes este ano para reservar água e impedir que as estiagens, que são anuais, prejudiquem o agronegócio. A produtividade do campo por meio da irrigação cresceu em oito vezes e cada vaca em pasto irrigado produz três vezes mais.

DINHEIRO - A sra. vai levar esse projeto na mala quando for percorrer outros Estados?

YEDA - Eles me pedem para mostrar como nós fizemos uma virada de 40 anos de déficit em dois anos, eu aproveito porque tenho interesse em projetos sociais. Estive com o prefeito Gilberto Kassab, porque tenho ideias e práticas de problemas sociais muito semelhantes. Quero conversar sobre a Copa 2014. Sobre investimentos em segurança pública. Quero saber como o índice de homicídios em São Paulo diminuiu 76% em seis anos. Fiquei presa nos últimos dois anos dentro do Estado e de certa forma eles torceram para que o resultado aparecesse e agora ele apareceu com o déficit zero.

DINHEIRO - Como está esse pedido para a sra.?

YEDA - Já estou fazendo. Eu me reuni com o grupo de emprego e a gente encontrou algumas soluções para o governo federal desonerar o empresário sem afetar os Estados, porque as mudanças no IR e do IPI refletem diretamente no repasse do Fundo de Participação dos Estados.

DINHEIRO - Como a sra. vê a popularidade do presidente Lula em 84%?

YEDA - Uma beleza, a gente torce para a autoridade ser popular. Ele passou os primeiros quatro anos se justificando. Agora, no segundo mandato, ele está dizendo ao que veio com o PAC e com o reconhecimento de que o Brasil está preparado para a crise. E o povo reconhece isso. Inclusive pelos programas de ampliação que ele fez, que são extraordinários. Ele pegou o Bolsa Escola, o Bolsa Gás e transformou no Bolsa Família, em que tem 12 milhões de pessoas recebendo uma renda mensal.

DINHEIRO - Por isso que a sra. está interessada em programa social?

YEDA - Desde o início eu me interesso pelo social. Porque não faz sentido fazer um choque de gestão à custa do social. Gastamos mais em saúde em dois anos do que nos quatro anos do governo Olívio (Olívio Dutra). Gastei menos em custeio e mais na educação. Mais em segurança. Estou equipando todos os órgãos de segurança. Não deixei de investir no social.

DINHEIRO - Se investiu no social, o Estado está superavitário. O que falta ainda?

YEDA - Espero baixar o custo de vida no Rio Grande do Sul, que é o mais alto do País. Se eu for até São Paulo e comprar roupas, eu pago a passagem de avião de ida e volta de tão mais baratos que elas são. Por isso tem gente vivendo exatamente de vender as roupas que levam de São Paulo e de Minas Gerais.

DINHEIRO - A culpa é da tributação?

YEDA - Não, porque a minha alíquota base é a menor. Em parte é o custo do Rio Grande do Sul que é o custo das estradas e de infraestrutura.

DINHEIRO - Então a sra. vai investir agora em estradas?

YEDA - Eu até que queria, mas houve um impedimento do Ministério dos Transportes para que eu pudesse fazer isso já --Isto é Dinheiro--

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