terça-feira, 20 de outubro de 2009

Reestatização da Vale quase aconteceu

O presidente da Vale, Roger Agnelli, anunciou ontem que a companhia investirá US$ 12,9 bilhões em 2010, o que descreveu como "o maior plano de investimento já realizado no País por uma empresa privada". O executivo, que discutiu o projeto a portas fechadas com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no fim da tarde de ontem, em São Paulo, destacou que o cronograma permitirá que a mineradora aumente em 12% seu quadro de funcionários, alcançando a marca de 81.400 postos de trabalho diretos.

O anúncio ocorre em meio a um clima de trégua entre Lula e Agnelli, após uma sucessão de críticas públicas e questionamentos sobre a permanência de executivo no posto. Os investimentos previstos devem superar em aproximadamente 30% os US$ 10 bilhões que serão aplicados pela mineradora nos 12 meses encerrados em 30 de junho passado.

Depois dessa divulgação, Lula voltou a provocar Agnelli."Você viu a quantidade de investimento que o Roger anunciou hoje?", perguntou o presidente aos empresários presentes, à noite, na solenidade de premiação da 12ª edição da pesquisa "As empresas mais admiradas no Brasil", organizada pela revista CartaCapital. "Se isso não for só no papel, estamos bem na fita. O Roger vai gastar o que a Vale nunca ganhou", completou, arrancando gargalhadas da plateia.

Na saída da reunião da tarde com Lula, Agnelli empenhou-se em dar garantias de sua permanência na presidência da Vale. "Eu, sinceramente, nunca tive nenhuma ciência de que ninguém quisesse me tirar. E nem sonhado eu tenho em sair", disse o executivo. Ele afirmou ainda que mantém uma boa relação com Lula e o presidente "cumpre seu papel" ao cobrar a companhia.

"Acho que a expectativa do presidente, o fato de o presidente pedir, é como eu faço na minha empresa. Eu cobro meus gerentes e diretores todos os dias." Ele considerou o noticiário sobre as relações entre o governo e a empresa um exemplo de que a imprensa "extrapola".

"Procurei ficar quieto nesse processo todo até as coisas entrarem pelo menos no racional." Agnelli procurou afastar a ideia de que sua indicação para o comando da empresa coube ao Bradesco e empenhou-se em negar interferência política na empresa. "É um monte de versões, versões, versões. Mas os fatos são muito diferentes." O mesmo, disse ele, vale para a tese de que diretores da Vale teriam sido indicados por partidos políticos.

"Não tem indicação nenhuma." Segundo ele, o plano de investimentos vai permitir que a empresa aumente em 50% sua produção de minério de ferro até 2014, para 450 milhões de toneladas. Sobre as pressões para que a empresa alavanque negócios na área siderúrgica, Agnelli disse que a Vale já exerce um papel fundamental no incentivo nessa indústria.

"Nós já estamos em siderurgia. Hoje somos os maiores investidores em siderurgia no Brasil. Projetos que estamos apoiando, em que estamos de alguma forma participando e por trás dos quais há toda uma lógica de mercado, de acesso a mercado", afirmou ele, acrescentando que considera "simplificada" a versão de que a empresa precisa agregar valor à sua produção. "Só estes projetinhos que a Vale está apoiando, que ninguém dá a correta dimensão deles, estamos falando de três vezes a produção da Argentina."

Horas antes do anúncio, Lula já usava um tom mais amigável ao se referir a Agnelli. Ainda assim, o presidente aproveitou um discurso para empresários brasileiros e colombianos na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) para dar um recado ao executivo. Ao lado do colega colombiano Álvaro Uribe, Lula comentou que a Vale prevê investimentos de US$ 380 milhões na Colômbia, mas poderia "fazer um pouco mais".

"Até o Roger sabe que a Vale do Rio Doce não pode achar que é grande e ficar sentada numa cadeira em sua sede se não for para a rua vender. É preciso disputar cada milímetro." Questionado sobre se planejava fazer as pazes com Agnelli no encontro que teria mais tarde com o executivo, Lula emendou: "Eu, como presidente da República, sou um homem de paz".

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