sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Pediu pra sair pra não ser esmagado

A decisão do governador Aécio Neves encerra o primeiro capítulo da sucessão presidencial no PSDB, em favor da candidatura do governador José Serra à sucessão de Lula, mas não põe fim ao suspense que acompanha a novela.

Aécio não anunciou na carta o passo seguinte, o que mantém a possibilidade de vir a disputar uma vaga ao Senado por Minas. Mas é inegável que a desistência anunciada ontem abre caminho para a chapa puro-sangue tão sonhada pelos tucanos e em relação à qual o DEM não tem mais poder de contestação.

Ele sai forte do páreo e pode negociar sua presença numa chapa com José Serra, de forma a não ser um vice decorativo, com papel meramente coadjuvante. Há inclusive antiga proposta no partido pela qual ele teria um ou mais ministérios sob seu comando, garantindo a visibilidade para ser o candidato à sucessão de 2014.

Influiu para que Aécio antecipasse esse anúncio o atrito entre o PMDB e o presidente Lula. Com uma definição mais clara de sua estratégia, o PSDB se coloca como alternativa de aliança para o PMDB, o que, no mínimo, cria dificuldades para a candidata do governo, Dilma Rousseff.

Aécio constatou que chegara ao limite na estratégia de protelar ao máximo sua decisão, sem prejudicar o PSDB. Além dos fatores já mencionados, a posição de pré-candidato começava a ser ameaçada pelo timing de qualquer campanha: ele precisaria começar a se movimentar como candidato se decidisse levar adiante a empreitada.

Embora a crítica de Aécio ao partido, por ter desconsiderado sua proposta de realização de prévias, tenha sido interpretada como um sinal de que não pensa em compor com Serra, a lógica política indica o contrário.

Uma chapa Serra-Aécio, na avaliação de todos os políticos, seria a única opção com chance de enfrentar a popularidade do presidente Lula, transferida para a sua candidata Dilma Rousseff. "Imbatível", é como os tucanos e o Democratas a saúdam constantemente.

De fato, uma composição com o DEM, mesmo se o governador do DF, José Roberto Arruda, estivesse no melhor dos mundos, reforçaria a estratégia de campanha da candidatura oficial de fazer da eleição de 2010 um plebiscito para escolher entre os governos Fernando Henrique e Lula. Já uma chapa puro-sangue, torna o apoio do DEM compulsório e evita o desgaste de uma busca explícita por um vice cujo perfil o parceiro de ontem já não dispõe. E que já não convém.

Aécio e Serra sabem que a campanha não poderá ser contra o presidente Lula. Sua popularidade e o sentimento do eleitor de que deve ao seu governo uma vida mais confortável, de maior poder de compra, de lazer e consumo não recomendam confrontos.

Por isso, a estratégia de postergar o quanto possível o anúncio oficial da candidatura, para que o debate se dê com Dilma Rousseff e que se abra a chance de o eleitor escolher qual dos candidatos têm melhor capacidade de assegurar esse benefícios em continuidade à gestão Lula.

Restará sempre a dúvida sobre o comportamento dos tucanos. Foi estratégia a disputa entre Aécio e José Serra? O acompanhado conflito entre ambos teve o propósito de dar mais visibilidade aos dois políticos, mantendo-os candidatos, sem no entanto sê-los?

Mesmo que não se possa responder positivamente a essa questão, o fato é que, até aqui, todos ganharam. O governador Aécio Neves deixa o figurino de candidato com 15% nas pesquisas, cinco vezes mais do que tinha ao admitir a candidatura. Fica forte com a renúncia, algo que os mineiros sabem fazer como ninguém. Aumenta seu trunfo junto a Serra, e está forte em Minas. Pode impor as condições para aceitar compor uma chapa como vice.

Nas contas dos tucanos, a chapa puro-sangue pode capturar os 35 milhões de votos das regiões Sul e Sudeste e viabilizar uma reversão de expectativas no Nordeste, onde Lula é absoluto nas pesquisas que medem a aprovação de seu governo.

Para Serra, há um efeito colateral do gesto de Aécio, que não chega a ser inadministrável: ainda que continue uma possibilidade, a chapa puro-sangue ganhou contornos mais nítidos, ficou mais próxima da realidade política, o que torna o governador de São Paulo mais candidato do que antes. E, por consequência, vira alvo antes do tempo que escolheu para oficializar sua candidatura.

Seja qual for a estratégia de Aécio, há uma dinâmica própria no processo em curso no PSDB, que pode tornar irreversível a chapa puro-sangue. O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) dá bem o tom da euforia do partido, ao dizer que a chapa Serra-Aécio é perfeita: "Aécio é o nosso fator de sedução", diz.

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