quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Vice e algoz de Yeda mira a Assembleia

Empresário bem sucedido e ex-dirigente de entidades de classe, o vice-governador do Rio Grande do Sul, Paulo Afonso Feijó (DEM), afirma que está "frustrado" e "chocado" com o governo de Yeda Crusius (PSDB), com quem rompeu ainda durante a campanha eleitoral de 2006, mas nem por isso pensa em abandonar a política no ano que vem, quando terminar seu mandato. Defensor assumido do liberalismo, da redução da carga tributária e de um Estado menor e mais eficiente na gestão dos recursos públicos, ele ainda não sabe exatamente a que cargo irá concorrer, mas o próximo passo da carreira iniciada em 2007 pode passar pela Assembleia Legislativa gaúcha.

"Eu ainda tenho um papel (a cumprir). Entrei no jogo e agora é para jogar", afirma. O vice-governador coloca a decisão nas mãos do partido, mas ressalva que "ainda é cedo, tem muita coisa para acontecer e uma avaliação só será mais clara e definitiva quando se consolidarem as alianças". Segundo ele, por enquanto a hipótese mais consistente é que o DEM se alie ao PDT e ao PTB, mas abra mão da cabeça de chapa para o governo estadual.

Com a fala calma e pausada de quem não se ilude com a notoriedade adquirida como um dos críticos mais ácidos e contundentes do governo Yeda, Feijó não é favorável à "aventura política" de concorrer a governador por um partido ainda pequeno no Estado como o DEM. Ele tampouco perde a tranquilidade quando colocado diante da possibilidade de assumir o governo por alguns meses no ano que vem, caso a governadora renuncie para concorrer a outro cargo e não à reeleição.

Ex-supermercadista e hoje dono de empresas de consultoria, participações e negócios imobiliários, entre outras, o vice-governador filiou-se ao então PFL no fim de 2005 a pedido de líderes do partido que queriam tê-lo à disposição para a eleição de 2006. Depois de presidir as associações gaúcha e brasileira de supermercados (Agas e Abras) e a Federação das Associações Comerciais do Rio Grande do Sul, ele confessa que "não queria ser eleito", mas aceitou concorrer a senador na chapa PSDB-DEM. Tinha certeza de que não levaraia a única vaga numa disputa contra nomes como Pedro Simon (PMDB) e Miguel Rossetto (PT).

Só que, na última hora, os dois partidos acabaram colocando-o na vaga de vice de Yeda e, para não tumultuar, resolveu aceitar. Com o amplo relacionamento no meio empresarial, ajudou a chapa a arrecadar contribuições, mas logo depois do 1º turno o tempo começou a fechar. Quando a então candidata tucana começou a costurar alianças para o 2º turno, ela saiu em busca do apoio do PMDB e do PP e "desprezou o DEM, inclusive pedindo que eu renunciasse à vice", lembra Feijó.

O episódio, conhecido nos meios políticos gaúchos, selou a ruptura entre a governadora e seu vice. Em algumas poucas ocasiões depois da posse os dois chegaram a anunciar acordos de paz, mas a cisão era mesmo irremediável. Ainda antes do início do governo, por exemplo, Yeda havia acertado com o então governador Germano Rigotto (PMDB) o envio de um projeto à Assembleia mantendo o aumento do ICMS sobre energia, telecomunicações e combustíveis. Mas, assim como havia feito dois anos antes, Feijó voltou a liderar manifestações contra a medida, que dessa vez acabou derrotada, e bateu de frente contra a tucana.

"Yeda rasgou o discurso da campanha", afirma Feijó, para quem hoje o governo segue aumentando a carga de impostos de forma "enrustida" graças à ampliação dos setores da economia sujeitos ao regime de substituição tributária (no qual o ICMS é recolhido na indústria sobre um valor presumido de venda da mercadoria no varejo). A ruptura custou a ele o total isolamento no governo, mas também rendeu à governadora um adversário perigoso na própria trincheira.

Em um dos embates posteriores, revelou gravação comprometedora com o ex-chefe da Casa Civil, Cezar Buzatto, sobre o uso de órgãos públicos e estatais para financiamento de aliados. Depois, depôs ao Ministério Público Federal sobre desvios de recursos de campanha e ajudou a abastecer uma ação por improbidade administrativa movida contra a governadora (mais tarde ela teve seu nome retirado da ação por liminar do Tribunal Regional Federal, mas o caso ainda não está encerrado). "Eu não tolero corrupção no meu governo, no meu partido, nem nos meus oponentes", afirma, palpitando pelo afastamento imedidato do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, seu correligionário.

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