O Brasil mais que dobrou o comércio com os países da América Latina nos últimos cinco anos. Um levantamento do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior para o World Economic Forum (WEF) mostra que as trocas com os vizinhos saíram da casa dos US$ 22 bilhões, em 2003, para cerca de US$ 52 bilhões no ano passado. Mas a crise já começa a azedar o estreitamento alcançado neste período: a queda no comércio com o continente é da ordem de 30%, acima da média com o resto do mundo.
O secretário de Comércio Exterior, Ivan Ramalho, avalia que a vantagem das exportações para os países latino-americanos está na qualidade dos produtos vendidos. Cerca de 87% da pauta é composta por manufaturados. E, justamente por este motivo, o impacto da crise sobre o comércio com os vizinhos é maior. A crise atingiu com mais força o consumo de manufaturados e, como as exportações para os vizinhos é na maior parte de bens finais, o prejuízo naturalmente é maior.Para Hugo Valério, diretor de assuntos estratégicos da HP Brasil, os setores que trabalham com vendas a crédito, como os de bens de consumo duráveis, estão sendo mais afetados, uma vez que houve um freio na demanda em geral, porque as pessoas deixaram de consumir - e de contrair dívidas a crédito - com medo de perder o emprego. Já o mercado à vista, disse, vai muito bem, obrigado - alimentos, bebidas, o comércio popular vão bem.
De acordo com o executivo, é preciso restaurar a confiança das pessoas e das próprias empresas para evitar a entrada em um círculo vicioso em que se consome menos, o varejo vende menos e, por isso, compra menos das empresas, que vão ter de reduzir a produção.
"O governo colocou algum incentivo no setor automobilístico, as montadoras voltaram a vender carro e a contratar. Se políticas como essas forem mantidas, o consumo continuará crescendo", afirmou o executivo.
Continente mais preparado
Embora muitos dos participantes do Encontro para a América Latina do World Economic Forum, que acontece esta semana no Rio de Janeiro lembrem que a América Latina não se encontra imune aos efeitos da crise global, boa parte dos empresários e economistas presentes ao primeiro dia de debates foram quase unânimes em reconhecer que os países da região estão mais preparados para enfrentá-la do que no passado. Para os participantes, quase uma década de políticas fiscais responsáveis contribuiu para fortalecer os fundamentos econômicos dos países do continente.
O professor de economia da Universidade Católica do Chile, Felipe Larrain Bascuñan, afirmou que o continente se encontra mais resistente a crises, devido a um sistema bancário mais forte, entre outros fatores. Otimista com os rumos do continente, Bascuñan prevê o início da recuperação dos países da região até o fim do ano.
"A América Latina está mais resiliente e tem um sistema bancário mais forte. Por isso, a retração da economia não será muito acentuada", afirmou o professor, que sugeriu, no entanto, a adoção de medidas como o subsídio para a contratação de novos trabalhadores pelo setor produtivo.
Durante as conclusões do painel "Balanço Econômico Regional", do qual participou Bascuñan, a vice-presidente do Banco Mundial para América Latina e Caribe, Pamela Cox, lembrou que, apesar de mais resistentes a crises, os países da região não podem perder de vista a busca por maior produtividade nas políticas de subsídios para estímulo ao setor privado.
A vice-presidente do Banco Mundial advertiu para a necessidade de assegurar prioridade à manutenção das conquistas sociais obtidas nos últimos anos pelos países da região.
"O Brasil é um grande líder na América Latina e tem posição de destaque no mundo", afirmou.
De acordo com ela, um dos pontos em que houve mudanças no Banco Mundial nos últimos três anos foi no acesso a empréstimos. "Começamos a ampliar o acesso dos países mais pobres aos empréstimos do Bird. Ficamos mais flexíveis e começamos a fazer isso reduzindo as taxas dos empréstimos para os governos e tentamos liberar os recursos mais rápido", disse Pamela. "Se uma ideia é boa, somos entusiastas dela."
O banco está trabalhando mais diretamente com os governos estaduais, como Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Amazonas, porque o governo federal tem maiores fontes de recursos. Além disso, os governos estaduais tem mais condições de investir em infraestrutura.
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